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quarta-feira, outubro 10, 2007

Crónica das Quartas (4)

Como é que um dirigente pode avaliar o trabalho de um treinador?

A maioria dos dirigentes do basquetebol são pessoas ligadas a este desporto há muitos anos. No entanto, imagino que devam ter algumas dificuldades em avaliar treinadores, visto que muitos não praticaram basquetebol. Este facto não é necessariamente negativo, mas poderá causar alguma dificuldade na avaliação do trabalho dos comandantes da equipa. É que na formação os resultados devem ser um ponto de análise muito pequeno, ao contrário do que muitas vezes acontece!

Antes de continuar devo dizer que dar dicas para avaliar um treinador é complexo e DEVE SER ADAPTADO À SITUAÇÃO EM CAUSA.
Deste modo sugiro um conjunto de pontos que deve ser analisado quando se avalia o trabalho de um treinador, por esta ordem de prioridade:

1- Presença de atletas nas selecções distritais e nacionais.

Um treinador de formação tem como principal objectivo tentar formar na sua equipa jogadores que tenham o maior potencial possível, isto é, aqueles que pela sua qualidade técnica, física e psicológica sejam considerados como futuros bons valores para a modalidade. Não me lembro de pessoa melhor para avaliar este tipo de trabalho do que o Seleccionador Distrital ou Seleccionador Nacional. Se uma equipa tem vários jogadores chamados às selecções então é PROVÁVEL que o treinador esteja a formar jogadores com potencial! Não será este, à partida, um bom trabalho?

2 - Resultados da equipa nos diferentes campeonatos.

Ao analisar este ponto há que ter em atenção que existem muitas formas de, na formação, conseguir resultados desprezando a evolução dos atletas. Assim, o facto de a equipa ter bons ou maus resultados não é necessariamente sinal de bom ou mau trabalho... Pode-se fazer um bom trabalho e ter maus resultados ou fazer um mau trabalho e ter bons resultados! Atenção!

3- Capacidade de motivar e "orientar" jogadores, dirigentes e pais para o objectivo da época.

A alegria e motivação diária no trabalho é algo que predispõe à melhoria dos diferentes parâmetros da equipa.

Estes aspectos são apenas orientações e gostava de ouvir outras opiniões pois penso que a avaliação dos treinadores será uma das maiores dificuldades dos dirigentes e que todos deveriamos contribuir para ser ultrapassado...

Próxima crónica: Defesa no escalão de Iniciados.

14 comentários:

Anónimo disse...

"Ao analisar este ponto há que ter em atenção que existem muitas formas de, na formação, conseguir resultados desprezando a evolução dos atletas. Assim, o facto de a equipa ter bons ou maus resultados não é necessariamente sinal de bom ou mau trabalho... Pode-se fazer um bom trabalho e ter maus resultados ou fazer um mau trabalho e ter bons resultados! Atenção!"

Não comento mas deixo algumas questões (porque sinceramente já não tenho pachorra para este tipo de discurso):
porque é que trabalhando bem não se há-de querer ganhar e conseguir ganhar?
porque é que trabalhando bem, dentro dos princípios que são considerados como correctos ("as coisas simples do basquetebol") não se há-de incutir nos "miúdos" o espírito de querer ganhar e gostar de ganhar?
porque é que o Tiago Órfão e outras pessoas com o mesmo discurso pensam que só trabalhando mal, com truques, é que se ganha?
devemos concluir que quando foi campeão distrital de iniciados o Tiago Órfão usou truques e fez um mau trabalho?

Perdoe-me as perguntas mas gostava que esclarecesse porque há que acabar com a ideia de que são vigaristas e trapaceiros todos aqueles que querem ganhar, gostam de ganhar e que ganham...

Anónimo disse...

Obrigada Tiago, mais uma vez, pelo excelente texto.




Alexandra

JN disse...

Ganhar parece-me uma sequência lógica do bom trabalho.
Ganhar significa, no entanto, atingir as metas a que se propôe, cumprir os objectivos definidos.
Dou um exemplo. Na época passada, no campeonato distrital de Cadetes Masculinos, o Clube PT venceu a competição sem uma única derrota, objectivo inicialmente traçado e atingido, no entanto o Olivais fornecia tantos jogadores à selecção distrital como o Clube PT.
Avaliaremos então o trabalho no Clube PT como?
Se avaliarmos pelo objectivo de ganhar jogos, então o Clube PT foi o grande vencedor, mas se avaliarmos pelo lado do nº de jogadores na selecção então foi o Olivais o grande vencedor.
O que obviamente parece colocar aqui um problema.
O Tiago, bem, aponta um ou dois critérios de avaliação. Eu poderia identificar mais. Por exemplo, sempre avaliei como muito positivo, a relação de honestidade de um treinador com os seus atletas.
Obviamente que para alguns, apesar de concordarem com a utilidade do critério, este poderá não ter o mesmo peso de outros.
Fica no entanto uma certeza, pelo menos para mim, ninguem se "aguenta" muito tempo à frente de um grupo que não lhe seja reconhecido trabalho.
E este é sempre necessáriamente bom (pelo menos para o próprio) consoante coincida bem, com os objectivos traçados pelo clube.

JN disse...

Num acrescento ao que escrevi...à pouco.
Como dirigente, nunca joguei basquetebol, não vejo dificuldade nenhuma de avaliar treinadores.
Obviamente que não estou aqui a identificar/avaliar as capacidade técnicas de cada um.
Agora como dirigente sei definir objectivos e saberei avaliar no final de cada epoca desportiva, ou mesmo antes, qual a aderência dos resultados obtidos face aos objectivos traçados.
Pouco me interessará a forma ou o método como o treinador ensinou um miudo a lançar ao cesto. O que eu quero é que ele aprenda. Este é o o objectivo definido ao treinador e é esse que eu vou avaliar.
O que é dificil, porventura, é saber definir bem os objectivos. Agora uma vez definidos, não tenhas duvidas Tiago, qualquer dirigente avaliará, e bem, trabalho de um treinador.

Tiago Órfão disse...

Caro anónimo aqui fica a minha opinião em relação às perguntas que me colocou:

"porque é que trabalhando bem não se há-de querer ganhar e conseguir ganhar?"
"porque é que trabalhando bem, dentro dos princípios que são considerados como correctos ("as coisas simples do basquetebol") não se há-de incutir nos "miúdos" o espírito de querer ganhar e gostar de ganhar?"
Eu quero ganhar sempre e garanto-lhe que as crianças não precisam de ser incentivadas a querer ganhar. E É BOM que todos queiram ganhar! O que eu tento explicar é que não se pode sacrificar o desenvolvimento dos atletas nas mais variadas vertentes em função da ânsia de vitória (assunto que penso já ter explorado na última crónica). Querer ganhar não é de "trapaceiro", mas ganhar sacrificando a formação dos miúdos, basquetebolistica e social, por exemplo, isso sim é "batota competitiva"!

"porque é que o Tiago Órfão e outras pessoas com o mesmo discurso pensam que só trabalhando mal, com truques, é que se ganha?
devemos concluir que quando foi campeão distrital de iniciados o Tiago Órfão usou truques e fez um mau trabalho?"
Posso-lhe dizer que sempre me esforcei por não trabalhar com "truques" e com alguma naturalidade ganhei dois Campeonatos Distritais de Iniciados (o que tendo em conta o estado do basquetebol distrital não acho grande feito...). Acho que nunca disse que só se ganha trabalhando com truques... Mas não dúvide que há muitos treinadores que tentam usar truques para ganhar (veja a minha crónica da próxima semana...).

Para concluir deixe-me dizer que compreendo o seu ponto de vista e entendo a que se refere. O que lhe posso dizer é que quem trabalha "honestamente" tem hipóteses de ganhar já e de certeza que no futuro ganhará muito, mas muito mais...

Se fossem "vigaristas e trapaceiros todos aqueles que querem ganhar, gostam de ganhar e que ganham..." então acho que todos seriamos vigaristas e trapaceiros!

Tiago Órfão disse...

Amigo JN:

Concordo consigo quando diz que a "relação de honestidade de um treinador com os seus atletas" e o reconhecimento do trabalho do treinador pelos atletas são pontos importantes!

Em relação a casos particulares não gostava de me alongar muito, mas os critérios tal como disse os critérios "devem ser adaptados à situação em causa"...

Quanto à avaliação dos dirigentes acerca do trabalho do treinador tenho dúvidas que a maioria consiga estabelecer objectivos válidos para o desenvolvimento da equipa. Talvez um director técnico em conjunto com um dirigente façam uma equipa, senão melhor, pelo menos com mais potencial... :)

Anónimo disse...

"Perdoe-me as perguntas mas gostava que esclarecesse porque há que acabar com a ideia de que são vigaristas e trapaceiros todos aqueles que querem ganhar, gostam de ganhar e que ganham..."

Só uma pergunta:
-Será que ganham sempre aqueles que querem e gostam de ganhar?

Anónimo disse...

O último comentário foi meu.

José Pedro

F disse...

Como é que um dirigente pode avaliar o trabalho de um treinador?

Serão os treindores diferentes de uma outra qualquer categoria profissional Tiago?
Tenho ideia que não...e baseado nesta ideia suponho que nao existem duas formas diferentes de avaliar o trabalho de ninguem..quanto muito podem existir diferenças na definiçao de objectivos em funçao do meio ambiente onde os actores desempenham tarefas.

Qual a diferença entre a avaliação do desempenho de um treinador de basquetebol e a de um canalizador,de um engenheiro ou de uma outra qq actividade?
Apenas nos conteúdos..pois na forma..nada é diferente.
A avaliação do trabalho ( ao contrario da avaliação pessoal ) é algo demasiado fácil..para merecer mais do que tres linha...por isso..aqui vai algo para meditar.

A única forma conhecida de avaliar o desempenho de alguem é apenas comparar os resultados finais...com os objectivos que tinham sido definidos para essa tarefa. Parece me simples!
Simples talvez já não seja...definir objectivos..e parece-me que foi por aí.-.que entraste...ou seja..nao na forma de avaliar resultados mas sim..na forma de definir objectivos..e ai sim...aí é fundamental um conjunto de competências que poderei estar de acordo, poucos possuem. De resto repara:
Se alguem tem como objectivo demorar 3 horas para ir do Porto a Lisboa e demorar 185 minutos...como avalias este desempenho? Seguramente que negativo..e se em vez de 185 mnts..demorar 170 minutos?..Seguramente que positivo.
Como vês..analisar desempenhos é demasiado fácil....o que importa saber...é, se é..aceitavel.demorar 180mnts para ir do Porto e Lisboa e, caso afirmativo, o que tenho que fazer para alcançar esse objectivo?
Como em tudo na vida...define objectivos...que sabe e nunca quem pode, ainda que por vezes, quem pode..nao sabe..mas mesmo assim..continua a poder definir..o que nao sabe!
Abraço

F

JN disse...

Bem (re)vindo aos comeñtários F.
Concordo com a tua análise, mas, há sempre um mas...o que fazer quando os objectivos de quem sabe colidem com os de quem pode?

Tiago Órfão disse...

F antes de continuar gostava de dar-lhe as boas vindas a estas trocas de opiniões.

Concordo com o que diz em relação ao estabelecimento de objectivos. Penso até já ter dito num comentário anterior pensar que EM FORMAÇÃO é difícil para um director traçar objectivos e avaliar o sua concretização sem a ajuda de um treinador.

No panorama do basquetebol distrital (aquele que vou conhecendo...) julgo que nenhum clube tem uma estrutura que permita traçar objectivos concretos e fazer a avaliação do seu desempenho em relação a estes de uma forma séria.

Assim as minhas sugestões acabam por ser aquelas que julgo possíveis de utilizar com as condições que os clubes têm actualmente...

Abraço.

alexandra disse...

A propósito, lembro algumas recomendações do Instituto Nacional do Desporto para os dirigentes do desporto juvenil:


"TOME NOTA

O sucesso do dirigente do desporto juvenil não passa exclusivamente pelas vitórias, pelas medalhas ou pelos títulos de campeão alcançados, mas também, por proporcionar oportunidades de prática regular e agradável a um cada vez maior número de crianças e jovens, contribuindo para que eles gostem de praticar desporto.

SABIA QUE:

aquilo que as crianças e jovens mais procuram no desporto é estar com amigos, fazer parte de um grupo, melhorar fisicamente e aprender a modalidade que escolheram?

são poucos os jovens campeões que chegam a afirmar-se na Alta Competição, quando adultos?

entre os 14 e os 18 anos se verifica um elevado número de abandonos, em consequência de uma intervenção inadequada dos adultos que organizam e dirigem as actividades do desporto juvenil?"

Alexandra

F disse...

o que fazer quando os objectivos de quem sabe colidem com os de quem pode?
Foi esta a pergunts não foi JN?

Que nos diz o passado recente?

Que nas organizações organizadas a força da razão é sempre superior à razão da força, nas outras, nas que sendo organizações menos organizadas é sempre a razão da força que se sobrepoe à força da razão.

Fiquei com uma dúvida.

Querias dizer isso ou querias antes dizer "o que fazer quando os objectivos de quem sabe COINCIDEM com os de quem pode?

Espero que seja este o caso......torna sempre tudo tao..mas tao..mais facil..nao torna?

Abraço

F

F disse...

Caro Tiago...

No panorama do basquetebol distrital (aquele que vou conhecendo...) julgo que nenhum clube tem uma estrutura que permita traçar objectivos concretos e fazer a avaliação do seu desempenho em relação a estes de uma forma séria.

Foram estas as tuas palavras que, sendo verdado ( admito ) devem ser fortemente contariadas. E contrariadas porque?
Qunado dizes que nenhum clube tem uma estructura que permita traçar objectivos concretos isso é uma conclusão após a analise de um conjunto de factos. O que devemos perceber é se esses factos sao positivos ou se, pelo contrario podem ser modificados. Penso de resto que, nao so podem..como devem!

De resto..as estructuras que referes não sao componentes inertes, sao compostas por pessoas, pessoas essas que fazem das organizaçoes ( desportivas ou não )a sua grandeza ( insisto, desportiva ou não ).
Repara Tiago..conheces alguma Instituição que tenha nascido já grande ) grande no sentido de competente )?
Olha à tua volta e repara que todas elas quando apareceram..eram tao pequeninas ( até a Microsoft nasceu numa garagem ). Acontece que fruto das pessoas que nelas participam..foram crescendo..crescendo. À medida que a sua massa critica foi aumentando, passaram da fase do crescimento para a fase do desenvolvimento ( normalmente ja com pessoas com outras visoes )chegando finalmente à 3ª fase..maturação..
Como podes reparar as estructuras podem ser pequenas...e pequenas continuarão a ser se nao criarem as condiçoes para passarem a ser "grandes" e essas condiçoes..passam sempre pelo factor humano..ou seja..por quem tem a força da razao..do saber..do saber fazer...e nunca apenas..por quem fica sentado a ver..crescer!

Abraço

F