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quarta-feira, fevereiro 18, 2009

O menino e a flor

Num clinic de treinadores a que assisti, o croata Jankov começou por dizer que um dos problemas que acha mais preocupantes no basquetebol é a excessiva "formatação" que nós treinadores tentamos efectuar quando trabalhamos em formação, não deixando que a criatividade e a descoberta tenham o seu espaço. "Não isto, nao aquilo", quando muitas vezes o que eles nos mostram é melhor do que o por nós idealizado.
Nessa linha, deixo um texto retirado de um blogue brasileiro, de um conceituado pedagogo:

"O menino e a Flor
Oi meus amados amigos Professores e professoras, Este texto a baixo recorda minha infâcia, a época e a maneira que fui alfabetizada....Alé de ser riquíssimo para nós educadores refletirmos a nossa prática docente, também ao trabalharmos Artes com as crianças.Usei o mesmo como reflexão com minha turma do curso de Pedagogia Na FAEC, e foi maravilhoso o resultado da reflexão...Este texto é muito especial para mim nunca esqueço dele!

O MENINO E A FLOR
Era uma vez um menino. Ele era bastante pequeno. E ela era uma grande escola. Mas quando o menininho descobriu que podia ir a sua sala, caminhando, através da porta, ele ficou feliz. E a escola não parecia mais tão grande quanto antes. Uma manhã, quando o menininho estava na escola, a professora disse: - Hoje nós iremos fazer um desenho. - Que bom! pensou o menino. Ele gostava de fazer desenhos. Ele poderia fazer de todos os tipos: leões, tigres, galinhas, vacas, trens, barcos,; e ele pegou sua caixa de lápis e começou a desenhar. Mas a professora disse: - Esperem! Ainda não é hora de começar. E ele esperou até que todos estivessem prontos. - Agora - disse a professora - nós iremos desenhar flores. - Que bom! pensou o menininho. Ele gostava de desenhar flores. E começou a desenhar flores com seu lápis cor de rosa, laranja e azul. Mas a professora disse: - Esperem! Vou mostrar como fazer. E a flor era vermelha com o caule verde. No outro dia, quando o menininho estava em aula, ao ar livre, a professora disse: - Hoje nós iremos fazer alguma coisa com barro. - Que bom! pensou o menininho, ele gostava de barro. Ele podia fazer todas as coisas com barro: elefante, camundongos, carros e caminhões. Ele começou a juntar e amassar a sua bola de barro. Mas a professora disse: - Esperem! Não é hora de começar. E ele esperou até que todos estivessem prontos. Agora, disse a professora, nós iremos fazer um prato. - Que bom! pensou o menininho. Ele gostava de fazer pratos de todas as formas e tamanhos. A professora disse: - Esperem! Eu vou mostrar como se faz. E ela mostrou a todos como fazer um prato fundo. - Assim - disse a professora - Agora podem começar. O menininho olhou para o prato da professora. Então olhou para seu próprio prato. Ele gostava mais do seu prato do que o da professora. Mas ele não podia dizer isso. Ele amassou o seu barro numa grande bola novamente, e fez um prato igual o da professora.Era um prato fundo. E muito cedo, o menininho aprendeu a esperar e a olhar, a fazer as coisas exatamente como a professora. E muito cedo, ele não fazia mais as coisas por si próprio. Então aconteceu de o menino e sua a família mudarem-se para outra casa, em outra cidade, e o menininho tinha que ir para outra escola. Esta escola era maior do que a primeira. E não havia porta da rua nesta escola. E no primeiro dia ele estava lá. A professora disse: - Hoje nós faremos um desenho - Que bom! pensou o menininho, e ele esperou que a professora dissesse o que fazer. Mas a professora não disse. Ela apenas andava na sala. Foi até ele e falou: - Você não quer desenhar? - Sim, disse o menininho, o que é que nós vamos fazer? - Eu não sei, até que você o faça, disse a professora. - Como eu posso fazê-lo? Perguntou o menininho. - Da maneira que você gostar, disse a professora. - De que cor? - Se todo mundo fizer o mesmo desenho e usar as mesmas cores, como eu vou saber quem fez o quê e qual o desenho de cada um? - Eu não sei, disse o menininho. E ele começou a desenhar uma flor vermelha com o caule verde."

7 comentários:

Anónimo disse...

Posso não ser treinador nem ter qualidades para tal, mas adorei o texto.

Obrigado Miguel por mais 5 minutos de prazer ao ler isto.

DiogoDuarte disse...

Excelente, este texto ensina mesmo muito. Um problema que concordo que deve ser levado em atençao.
Obrigado Miguel.

Anónimo disse...

Pois este é o velho problema da utilização da criatividade individual moldada em prol do colectivo ou da formatação dos hábitos e características de cada um num modelo único.
Nem todos somos médicos, nem todos somos professores, nem todos somos atletas, mas todos temos sempre algo a acrescentar quando estamos num grupo.
A quem compete a gestão dos recursos num grupo?
Cada um terá o seu entendimento nesta matéria, mas uma coisa me parece óbvia e indiscutível: tolher a liberdade e a criatividade individual jamais trará resultados em termos colectivos!
Parabéns pelo post

José Pedro

F disse...

Curioso ou nao foi um tema levantado faz já algum tema e, tentando enquadrar no basquetebol chegamos ao dilema Sistema / Conceito.
Interessante a analise da diferença entre o conceito do texto e o sistema utilizado e uma pergunta fica para reflexao:

Porque continuamos a ver todos os fins de semana equipas "empacotadas" em Sistemas e raramente vemos grupos organizados em Conceitos?
Uma sugestão:

Passem por alguns locais do distrito de Aveiro e analisem a diferença entre o Conceito e o Sistema.

Carlos Grave

Anónimo disse...

"Era uma vez um menino que praticava basquetebol. O menino adorava este jogo e, aos poucos, ia aprendendo novas técnicas e habilidades. Um dia, quando o menino e os seus companheiros terminavam mais um treino, o treinador disse: “Amanhã nós iremos fazer o nosso primeiro jogo”. “Que bom!”, pensou o menino. Ele gostava de fazer jogos. Ele poderia colocar em prática todas as técnicas e habilidades que tinha vindo a aprender. Foi para casa muito contente e nessa noite, antes de dormir, pensou no jogo e na forma como iria jogar. Estava preparado; sentia-se preparado. Mas no jogo o treinador disse: “Hoje só jogam estes sete jogadores! Ainda não é hora de todos jogarem”. O menino estava entre os que não jogaram, mas acatou a decisão do treinador e continuou a treinar com afinco para aprender novas técnicas e habilidades, ainda que por vezes treinasse a um canto, sozinho ou com um treinador-adjunto, segundo o treinador a fazer “treino específico”. Os jogos sucederam-se. E ele esperou, com persistência, até que fosse chamado a jogar. Esse momento, no entanto, tardava em chegar. O menino, mesmo assim, continuava a ir aos treinos e jogos e nunca deixou de aplaudir os sete companheiros que jogavam. Por vezes invadia-o uma grande tristeza e sentimento de injustiça, que procurava não deixar transparecer no seio da equipa mas que os seus pais em casa facilmente percebiam. Afinal porque é que ele não jogava, se se esforçava tanto ou mais que os outros meninos?
A época passou. O tempo passou. Hoje, passados anos, o menino já não pratica basquetebol. Não dá por perdido os anos que passou na modalidade, apesar de não ter tido as devidas oportunidades para mostrar o que valia. E uma dúvida sempre o invadiu: teria sido jogador se o seu treinador tivesse apostado nele e o tivesse deixado fazer aquilo que é elementar a quem aprende seja o que for, ou seja colocar em prática? Apesar de continuar a pensar neste assunto o menino não tem a resposta. O treinador terá?"

Anónimo disse...

Sinceramente que simpatizei com a forma como o anónimo anterior aproveitou o texto do Miguel Cunha para levantar, diga-se, com elevação, um problema que no momento se vive não só no basquete PT mas em toda a sua generalidade.
A pergunta e consequente resposta a haver, e certamente que existirão, ficarão no ar, únicamente porque se continua a levantar as questões no anonimato. Creio que tal opção não será por receio, muito menos por timidez pessoal ou vergonha de quem quer que seja, mas que limita a discussão, isso limita,primeiro porque é uma via que não esclarece os objectivos, depois porque não sendo nunca direcionada a ninguém em concreto , óbviamente não poderá por ninguém objectivamente ser respondida muito menos esclarecida.
Façamos todos um esforço para nos identificarmos proporcionando uma reflexão aberta e franca sempre que necessária sobre a modalidade de que todos tanto dizemos gostar, bem como da casa que com poucas ou muitas interrogações que nos aninem e nos assistam por direito,deve superiormente continuar a merecer dedicação e empenhamento na continuidade e construção do seu futuro.

Eu acredito na Relação Humana, de olhos nos olhos, cara na cara,e sei de todos sermos capazes.

Moura Távora

Anónimo disse...

Então mas o Gustavo e o Diogo Duarte não tê opinião sobre este texto do menino que joga basquetebol? Desfizeram-se em elogios ao texto do Miguel e em relação a este, que trata de uma questão bem real, já não opinam?

Tão pequeninos e já tão hipócritas... Bem, é PT...